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Os Novos Escritórios Pós Pandemia

Nos anos 1990, com a chegada da internet, os gurus da tecnologia profetizaram que o home office se tornaria o padrão de trabalho universal, na época, isso não foi tão relevante, pois segundo dados de 2019, apenas 4,8% dos brasileiros trabalham de casa. Na China, uma agência de viagens fez um experimento em 2013: colocou uma parte de seus 16 mil funcionários trabalhando de casa. E concluiu que a produtividade deles aumentou em 13%. Satisfeita com o resultado, liberaram home office para todos.   

O assunto não é novo, mas estamos vivendo um momento inédito na história, o futuro nos reserva incertezas, a única coisa que sabemos é: os escritórios nunca mais serão os mesmos. Observando quem já enfrentou o problema, é inegável que haverá um cuidado geral, que as organizações terão uma preocupação maior com a saúde mental e emocional dos trabalhadores e buscarão oferecer benefícios e soluções para lidar com a questão. E que cultura da empresa se tornará um foco já que, depois da corona vírus, as organizações vão reconhecer cada vez mais a importância da cultura como contexto para o desempenho e o envolvimento dos funcionários.

Nem todo mundo deve continuar trabalhando em casa depois da crise, mas há grandes chances dos expedientes se tornarem mais flexíveis no novo mercado de trabalho. Mesmo empresas que antes eram aversas à modalidade se viram obrigadas a reconhecê-la como opção. Com isso, pesquisas acreditam que as empresas vão expandir a possibilidade de trabalho remoto, oferecendo mais opções e flexibilidade para os funcionários trabalharem onde eles possam produzir mais.

E quem for voltar para o escritório também deve se deparar com mudanças. Novas soluções serão aplicadas como técnicas de limpeza aprimoradas, distanciamento mínimo de 1,80m entre os colaboradores, menos quantidade de assentos em áreas coletivas, o uso de tecnologias para reservas de salas, controles de acessos. Além dos sensores de presença para iluminação portas, torneiras e dispenses com acionamento automático, e por aí vai. Isso tornará mais confortável para os profissionais, por conta de suas experiências durante a pandemia.

Mas, e o futuro?

A cada dia as relações de trabalho e a qualidade de vida do colaborador estão fazendo parte de debates e discussões no mundo dos negócios. Como bem sabemos, o local desperta e estimula sensações nas pessoas, a partir dos desafios de combate ao corona vírus, novas formas de pensar e construir ambientes de trabalhos serão acelerados.

A presença do design minimalista nesses novos ambientes com um redesenho de espaços mais clean, mesas de trabalhos mais limpas, objetos pessoais, como bolsas e até material de escritório usado no dia a dia, ficarão armazenados em lockers (armários com cadeado), instalados em espaços distantes da área de trabalho. Mobiliários flexíveis para layouts adaptáveis com a jornada do colaborador.

A utilização intensa da tecnologia para evitar toques. Desde a porta de chegada até os banheiros, a ideia é criar sistemas de acionamento automático que evitem que os trabalhadores toquem nas peças. No controle de acesso dos funcionários, as empresas devem passar a adotar o QR Code (código de barras bidimensional) ou leitor facial ou de íris. Além do sistema de reserva e monitoramento de salas de reunião e estação de trabalhos. Os novos encontros presenciais em escritórios serão em ocasiões específicas, como definir projetos, metas de trabalho ou treinamento. Serão a nova versão de “escritórios-conceito”, que servirão de apoio para demandas específicas, dinâmicas presenciais, recepção de clientes e parceiros. Locais para o encontro de reforço dos laços entre colaboradores e diretores.

Com objetivo de transformar os escritórios atuais, a incorporação de conceitos relevantes como técnicas de neurociência aplicada à arquitetura e o design biofílico serão ativos nos novos projetos. O uso de vegetação, janelas abertas, priorizando a ventilação natural, e isolamento acústico são uns dos exemplos. A iluminação, importante pilar de conforto e qualidade de vida no trabalho, estará mais presente do que nunca. Ela está também relacionada à ergonomia do local de trabalho, pois é preciso que cada atividade tenha a iluminação adequada à sua execução. Luz fraca ou excessiva prejudica a visão e gera um desconforto tão grande a ponto de atrapalhar a produtividade.

A neuroarquitetura pode ser aplicada no layout do escritório, e isso tem forte ligação com as relações que serão estabelecidas ali. Devido ao caráter interdisciplinar e, ao incorporar elementos da neurociência aplicada, estabelece interfaces ricas com outros campos do conhecimento. Estudada em diferentes níveis, variando desde o molecular e o celular até o dos sistemas e do comportamento, sempre buscando compreender como o ambiente físico impacta os indivíduos, por exemplo, através da liberação de substâncias químicas como hormônios e neurotransmissores, da expressão gênica, da plasticidade cerebral ou da alteração dos estados mentais, das emoções e dos comportamentos. Deve ser utilizada como ferramenta de análise e pesquisa ligada a forma de perceber e sentir o ambiente, através do seu diagnóstico, servir de lastro no processo de criação com resultado mais efetivo e, acima de tudo, para criar espaços mais saudáveis no curto e no longo prazo. Afinal, os novos modelos de escritórios passarão a ser espaços de promoção da saúde e bem estar. Vale a reflexão!